arte na periferia: A beleza de ser

12 de julho de 2007

A beleza de ser

“A beleza salvará o mundo.”
Dostoivski

Venho pensando nessa frase do Dostoivski há algum tempo. Na verdade sempre achei ela difícil de entender. Não sei em que contexto e nem em que texto ele disse isso, conheci a frase quando fui estudar na puc. Na prainha tem uma parede horrível, descascando com muitos pixos antigos e desbotada, no meio dessa bagunça esta lá essa frase.
Por esses dias conversei muito com o pessoal daqui, desse lado estamos pensando muito sobre periferia, seu significado, tudo isso que está acontecendo aqui. Esse sentimento de pertença que só que é de verdade sabe o que é. Essa admiração pela poesia que tem sido nossas conquistas dia-a-dia aqui na quebrada, essa beleza de ser que tem emergido pelo poro desses artistas e desse movimento tão mágico que estamos vivendo e construindo.
Não posso negar que é uma questão de olhar, mas são belos essas caras que temos ouvido, lido, conversado, debatido, assistido. São diversos pontos luminosos e circulares todos os dias acontecendo, seja num lançamento de livro ou de uma projeção de vídeo. Pobre aqueles que acham que nos não somos articulados, que não temos uma rede, graças ao filme eu pude enxergar que existe um reduto de artistas a cada dia da semana. E é só chegar que ele vai estar lá, o artista que você gosta, tomando uma cerveja, recitando um poema, fazendo um som... e você pode ir e falar com ele. Isso é qualquer coisa.
É mesmo um novo olhar que temos sobre nos mesmos, “eu posso sou possível”! Estamos orgulhosos, estamos mais bonitos, temos sido mais belos no nosso ser. Porque hoje não só táxi vem até aqui, como todo mundo ta olhando e dizendo “nossa! Os caras tão arrebentando tudo mesmo!” é desse jeito que tem que ser! E continuamos vapor total. Na consciência e na atitude, no conceito de cada polegar que colocamos na historia. Estamos fazendo nossa história, Mario de Andrade somos nós, somos Maloqueristas!
Estamos orgulhosos de ser da periferia mesmo, mas isso não quer dizer que estamos satisfeitos com o perrengue de todo dia, porque depois de cada noite de sarau vem um dia de trabalho duro. Não vamos deixar barato todo descaso e desconsideração com a gente. Estamos vivos mais do que nunca, arte e política caminham juntas lado a lado, preparados pro que der e vier. Dizemos com uma boniteza danada: “SOU DA PERIFERIA! E DAÍ?” e “QUEM TIVER VERGONHA DE SER DA PERIFERIA! PODE IR EMBORA AGORA!

Peu Pereira

Um comentário:

Anônimo disse...

O que é ser o outro nessa porra de sistema?
Ser o subalterno e não ser elite?
ser o rural e não ser cidade?
ser periferia e não ser centro?
ser mulher e não ser homem?
ser gay e não ser hetero?
ser sem teto e não ser proprietário?
ser meio ambiente e não ser humanidade?
ser sul e não ser norte?
Ser bicho e não ser humano?
Ser nordeste e não ser sudeste?
Ser bixo e não ser veterano?
Ser mendigo e não ser abonado?
Ser negro e não ser branco?
Ser analfabeto e não ser doutor?
Ser rebelde e não ser milico?
Ser torturado e não ser torturador?
Ser trabalhador e não ser usineiro?
Ser socialismo e não ser capitalismo?
Ser noite e não ser dia?
Ser oprimido e não ser opressor?
Ser esperança e não ser desespero?
Ser dúvida e não ser resposta?

Abraços
Rob Faleiros
robfaleiros@yahoo.com.br