Essa cambada de vigaristas poluindo nossa cidade, no capão redondo tem calçadas que não se pode andar.
Isso não é dialogo, isso é vencer pelo cansaço, então a gente também dá nosso recado.
Materia sobre a intervenção que saiu no site campana: http://campana.outraspalavras.org/?p=531
Texto: Mara Esteves
Em terreno lateral e íngreme da Estrada de Itapecerica, próximo a
AABB, por cima da grama que cobre o lugar ou presos junto a parede,
placas de candidatos políticos se espalhavam a exaustão, sorrisos falsos
dominavam a paisagem como se na disputa por essas eleições, vence quem
aparece mais, descaradamente desrespeitando as leis e os cidadãos,
debochando da impunidade que cerca a política do país.
Em resposta a uma ação, ocorre a reação. O artista Rafael Murayama, o
Nave Mãe, integrou ao espaço um espantalho de olho grande, nariz
comprido e sorriso carimbado, de terno e gravata, faixa presidencial e
notas de dinheiro nas mãos, aparentando assim “proteger a plantação de
dinheiro dos políticos”, elucidando o objetivo real desse cenário
pré-eleições.
Sua intervenção reflete sobre a atual política corrupta que se faz presente também nos gastos de campanhas eleitorais “Aquelas
faixas e placas de políticos, só me confirmaram o quanto eles cuidam
mal do dinheiro do povo brasileiro, parecendo uma grande horta impecável
e intocável aos pobres mortais, sendo assim, apenas coloquei o que
faltava, o espantalho, transformando em a grande colheita maldita” satiriza Nave Mãe.
Nascido e criado no Capão Redondo, Nave Mãe começou a intervir nos
espaços urbanos em meados dos anos 90. Começou na pichação e depois para
o graffiti, para as telas, instalações e participa de exposições dentro
e fora do país. Entre suas influências estão, Pablo Picasso, Pollock,
Duchamp e Basquiat, suas criações são reflexos de um cidadão periférico e
marginalizado como ele mesmo define nesta entrevista concedida via
e-mail.
O artista detalha a motivação do seu trabalho “Gosto de criar certo incomodo na mente das pessoas, faço isso com as minhas pinturas e instalações também” ressalta a importância desse tipo de intervenção e a interação com o público “a
relação do publico neste tipo de trabalho sempre é a mais positiva
possível, parece que ás vezes consegui dar uma oportunidade pública para
alguém se expressar também, o cara pode passar em frente à obra e falar
alto: É tudo safado mesmo, cadeia neles e etc.”.
Nave Mãe já interferiu na paisagem deste local nas eleições passadas.
Na primeira vez, fixou cruzes feitas de resto de material de campanha
eleitoral e transformou o espaço em cemitério, “esses suportes abandonados me ajudaram a ter a ideia e também a concretiza-las” explica.
Na intervenção do Espantalho, com o título de Intervenção Urbana:
Cara de Pau, contou com a ajuda dos amigos e cineastas, João Claudio de
Sena e Peu Pereira (ambos integrantes do coletivo Arte na Periferia) que
ajudaram na execução, produção e filmagens “intervir no espaço
público, é uma questão intrínseca e fundamental de artistas que tem o
graffiti como pelo menos uma das suas formas de expressão” define João Claudio de Sena.
Poucos dias depois, funcionários da Prefeitura de São Paulo limparam o
local retirando as placas e outros materiais de campanha, mas o boneco
ficou ali, estacado na terra, onipotente a mudança do cenário. Peu
Pereira faz coro ao que Nave Mãe cita sobre dar voz ao povo “o fato
de os trabalhadores da prefeitura terem retirado as placa e limpado o
terreno, porém preservando a intervenção, mostra o quanto estamos
cansados e queremos protestar, até inconscientemente, ou talvez que não
podemos subestimar a percepção sensível das pessoas”.
O espantalho desapareceu com o passar dos dias, ninguém sabe o que realmente aconteceu, “o
espantalho já não está mais lá e acho que aos poucos o terreno volta a
ser habitado pelas placas, talvez a prefeitura tivesse que limpar o
local, talvez tenha sido uma denuncia, não sei” opina Peu.
A necessidade de intervir nos espaços públicos, para fazer valer
nosso direito de expressão e questionar a realidade imposta pelo
governo, é o real objetivo dessa ação, como Nave Mãe enfatiza “Temos que tomar de assalto o que é nosso por direito”.
Um comentário:
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