Comunidade luta para manter centro cultural na zona norte de SP; prefeitura quer praça no local
Centro cultural mantido pela comunidade e artistas independentes corre o risco de fechar para a construção de praça. Subprefeitura admite que organização recebeu recursos da própria prefeitura para implantar estúdio musical no local, que pode ser destruído
Publicado em 28/06/2010, 14:48
Última atualização às 15:01
Centro Independente de Cultura Alternativa e Social (Cicas) atende 200 pessoas de forma permanente e 400 pessoas em atividades itinerantes (Foto: divulgação)
São Paulo - Moradores de Vila Sabrina, Vila Medeiros e Jardim Julieta, bairros da zona norte de São Paulo (SP), podem perder o único espaço cultural da região. A prefeitura da capital determinou a retirada do Centro Independente de Cultura Alternativa e Social (Cicas), que atende moradores da região em atividades de dança, música, de idiomas e literárias, para a construção de uma praça no local.
O aviso de desocupação surpreendeu artistas e comunidade no dia 11 de junho, uma sexta-feira. No dia 14, tratores, policiais e caminhões da subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme já tentavam demolir o local, mas moradores, incluindo crianças, impediram a passagem dos tratores.
Entretanto, de acordo com Luiz Carlos Sendro Junior, fundador e um dos gestores do centro cultural, móveis e materiais de trabalho foram retirados do local por policiais militares. "Não trouxeram ordem judicial, simplesmente retiraram nossas coisas e nos despejaram", afirma. "Ameaçaram nos prender por desacato. Só queríamos proteger nossos esforços de três anos pela cultura da comunidade", diz Sendro Junior.
O centro cultural atende semanalmente 200 pessoas em cursos fixos de inglês, capoeira, dança do ventre, desenho, criação literária, bateria, iniciação musical para crianças e contação de histórias. A coordenação do Cicas avalia que mais de 400 pessoas também participam de atividades itinerantes pela região, como apresentações teatrais e atividades circenses.
Desencontros
Sendro afirma que embora a prefeitura seja parceira do Cicas em várias ações culturais, o subprefeito de Vila Maria/Vila Guilherme admitiu, em reunião, desconhecer a existência do centro de cultura. "Estávamos em reunião na subprefeitura, eles diziam que não nos conheciam, mas na parede tinha um cartaz de um evento nosso", recorda Sendro Junior.
Diante da falta de informações, o grupo entregou um dossiê à prefeitura e recebeu a promessa de anular a demolição. Indiferentes à promessa, os tratores tentaram derrubar o local no mesmo dia, em 14 de junho. "Jogaram nossas coisas como se fossem muamba", critica.
Em nova reunião, a prefeitura concedeu 30 dias para os integrantes do Cicas apresentarem um projeto para manter o espaço. "Já conseguimos apoio para formular e apresentar um projeto para a prefeitura. Mas em meio a tantas promessas falsas do órgão, temos receio", ressalva Sendro Junior.
O gestor do Cicas afirma que a comunidade está empenhada em manter o espaço e as atividades. "Antes de abrirmos oficialmente para atividades em 2008, enquanto ainda estávamos reformando o espaço, as crianças já vinham aqui e os pais ficavam surpresos porque elas passavam tanto tempo envolvidas com arte", descreve.
Histórico
Antes de abrigar o centro de cultura independente, o galpão era sede de uma associação de mulheres que teriam deixado o local com medo da violência.
Em 2007, um grupo de artistas independentes, que hoje coordena o centro cultural, interessou-se pelo espaço e foi em busca dos donos ou responsáveis.
"Buscamos a associação de mulheres, a subprefeitura, a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação), por fim disseram que o espaço era dos próprios moradores da Cohab Vila Sabrina", detalha. "Fizemos reunião com os 22 condomínios da Cohab e ata da concordância deles com nossa atuação no local", explica Sendro Junior.
Segundo o gestor, o grupo de artistas acreditou que depois de percorrer diversos órgãos públicos à procura dos responsáveis pela sede da antiga associação de mulheres, estaria respaldado e poderia funcionar legalmente. O grupo reformou o galpão, comprou móveis e, em parceria com a prefeitura, implantou um estúdio musical para impulsionar bandas da região. "A próxima etapa de nossa história é a luta contra a demolição. Temos o apoio de artistas e políticos. A Secretaria Municipal de Educação já se manifestou a nosso favor", anuncia.
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